sem lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só o aroma dos cereais que amo.
Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.
Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras. De repente
enquanto ias comigo te toquei e se deteve minha vida:
diante de meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.
sábado, 6 de agosto de 2011
Soneto XXII
Gotas de Verdade
Nem tudo aquilo que se pensa, se diz.
Nem tudo o que se diz, se escreve.
Nem tudo aquilo que se escreve, acontece.
Nem tudo o que acontece se entende.
Nem sempre o que se entende, é.
E assim a vida passa devagar.
A certeza é horizonte, sempre distante.
Que jamais se alcança.
Se hoje falo baixo
É por medo que me ouças
E que saibas do meu medo
E de minha fraqueza.
Não existe outra razão a não ser
A de que sinto vergonha do que sinto
De que sinto urgência em amarrar estas idéias
Que soltas vagam em mim
Tenho sim, urgência.
Os dias, e o rosto dos velhos na cidade
Dizem-me que a vida passa
E ela passa mesmo
E essa colcha de retalhos
Permanece incompleta
Costura que jamais se fecha.
O tempo real fora de mim é tão diferente
Do tempo fantasioso que está em mim.
Esperança tola
E trágica conclusão:
Não voltarás.
Pelo menos não enquanto,
Estes versos sem rima
Fizerem algum sentido.
M.L.H 05/08/2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
O Perdão e a Promessa
Esta semana um conhecido jornal da cidade de Porto Alegre, trouxe a tona o já conhecido caso de Ameneh Bahrami, uma mulher iraniana que ficou com o rosto desfigurado e cega depois de um ataque com ácido há 7 anos, perdoou o seu algoz minutos antes que lhe fosse aplicado a sentença a que foi condenado: receber gotas de ácido em um dos olhos, como está previsto na sharia, o código de leis islâmicas. Esta publicação acendeu uma porção de debates sobre o perdão. Busquei imediatamente ler mais sobre o assunto e das abordagens que mais me cativaram, destaco a da filósofa alemã Hannah Arendt, da qual transcrevo o seguinte trecho:
"Se não fôssemos perdoados, eximidos das conseqüências daquilo que fizemos, a nossa capacidade de agir ficaria por assim dizer limitada a um único acto do qual jamais nos recuperaríamos; seríamos para sempre as vítimas das suas conseqüências, à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço. Se não nos obrigássemos a cumprir as nossas promessas não seríamos capazes de conservar a nossa identidade; estaríamos condenados a errar desamparados e desnorteados nas trevas do coração de cada homem, enredados nas suas contradições e equívocos - trevas que só a luz derramada na esfera pública pela presença de outros que confirmam a identidade entre o que promete e o que cumpre poderia dissipar. Ambas as faculdades, portanto, dependem da pluralidade; na solidão e no isolamento, o perdão e a promessa não chegam a ter realidade: são no máximo um papel que a pessoa encena para si mesma."
E sejamos felizes....
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Vejamos o fácil e o difícil na concepção do nosso querido Drummond...
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demostrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer ” oi ” ou ” como vai ? “Difícil é dizer “adeus”. Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas…
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo, como uma corrente elétrica, quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras. Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que se deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que somente uma vai te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.
SEJAMOS FELIZES!!!!!!
domingo, 31 de julho de 2011
O BELO E O BOM
“É fundamental que o estudante adquira uma compreensão e uma percepção nítida dos valores. Tem de aprender a ter um sentido bem definido do belo e do moralmente bom.”(Albert Einstein)
A maior parte de nossas vidas é gasta na busca do belo e do bom. Não há quem não persiga tais grandezas. Nós as perseguimos trabalhando, estudando, preparando-nos para a colocação no mercado de trabalho, ou requalificando-nos na própria profissão, sempre visando à melhoria de nossas condições de vida em todos os âmbitos: em casa, na profissão, com nossos pais, com nossos filhos, com nossos amigos, com nossos colegas de aula ou de trabalho.
A busca do belo e do bom é, pois, inerente ao ser humano e o acompanha desde seu surgimento. Em boa quantidade das atividades constantes da busca, porém, o homem se vê enganado pelo aspecto do belo aparente, ou do que lhe parece estruturalmente belo, e nele penetra. Em pouco tempo, entretanto, cria consciência da necessidade de aperfeiçoar o caminho e consertar o que pensava ser belo.
O processo de reparar defeitos e corrigir rumos é tão natural à vida humana quanto a vontade de obter o belo para continuar vivendo. Vem daí a virtude do que enxerga, muitas vezes, o belo como algo fugidio, efêmero, e então cabe a correção de rumo. Reacertar nossa vida e reassentá-la sobre novas tentativas não são – e nunca foram – erros: pelo contrário: o acerto é resultado de um processo longo, às vezes penoso e cansativo, que a muitos faz desistir e a outros fortalece.
A persecução do bom, por sua vez, no paralelismo do BELO & BOM de nossas lutas, precisa passar inexoravelmente pela lente do moralmente aceitável e eticamente permitido. Nossa busca não pode se limitar ao bom: é fundamental que seja moralmente bom.
Busquemos, portanto, sempre o belo e o bom em nossas vidas, mas, vigilantes, devemos apurá-los, depurá-los, filtrá-los e, assim, deles nos utilizarmos. O deleite da satisfação, da alegria, da vida que vale e valeu ser vivida passa pelo verdadeiro belo e pelo moralmente bom.
Professor Alberto Menegotto