Querido Outono,
Andei pensando em escrever as idéias conforme elas me vêm e observar as pequenas coisas que dão todo o sentido à vida. Foi assim que Goethe escreveu, apenas com 25 anos de idade, uma de suas primeiras grandes obras primas: “Os sofrimentos do jovem Werther”. Acredito que não será uma tarefa muito difícil, ainda mais que escrevo a alguém a quem quero tanto bem, você, meu amável outono. A vida desenrola-se 24 horas por dia, a existência é um grande laboratório e as explicações estão nas entrelinhas. Vigiarei o acaso.
Pois bem, hoje assisti a um filme que dizia, ao final de tudo, que a felicidade está mesmo é nas coisas simples. Outro dia ouvi uma prazerosa crônica de Salomão Shartzman, onde ele concluiu que a felicidade só era possível depois dos 40. Ontem à noite, numa festa, alguém do meu lado reclamou da ditadura da felicidade, e que achava péssimo não poder assumir a sua tristeza. Argumentava ele que, se o fizesse, seria censurado por pessoas nem tão felizes assim, mas que numa atitude quase que desesperada gritavam a sua “alegria aos quatro ventos”. Naquele momento, a argumentação do desconhecido me pareceu tão verdadeira... mas algumas horas foram suficientes para perceber que tudo aquilo não passava de retórica.
O difícil não é ser feliz. O difícil mesmo é dar se conta disso.
Marcos Hinterholz