domingo, 15 de janeiro de 2012

III Epístola ao Outono

Outono,

“Para barcos que não sabem para onde querem ir, nenhum vento serve!”

Como bem sabes, não sou nenhum referencial de equilíbrio e muito já chorei aos teus ouvidos. Já me senti muito pequeno e julguei-me incapaz de cruzar o oceano de incertezas que tantas vezes descortinou-se diante de mim. Mas um belo dia nós nos descobrimos já em alto mar, e damo-nos conta de que não é tão difícil assim viver e de que não há outra escolha que não seguir.

Digo-te isto porque não me sinto seguro em fazer análises e tampouco aconselhar ninguém. Faço-o única e exclusivamente para, de certo modo, brincar com as palavras e não perder o contato contigo, que é para mim, a coisa mais importante desta vida.

Espero que eu não te assuste com o meu amor. De certa forma parece que já sabemos onde vai terminar tudo isso. Lá no final, chegaremos à conclusão de que só ele, o amor, valeu à pena e que estava sempre entre as coisas que fizeram algum sentido. Então se acalme que, não morreremos disso.

Ora, se eu digo que o amor permeia as coisas, acho então que posso dizer também que ele é o espírito das coisas. Não é matéria concreta, embora esteja nela. E embora a matéria sempre se desfaça, o espírito sempre dura. Aqui não cabe discutir mais nada sobre o amor nem sobre o espírito. Embora poetas e filósofos sejam os que melhor chegam perto do espírito, muitas vezes se afogam nele.

Acho, pois, que agora é melhor falar também da matéria. Outono, desde os primeiros dias deste ano que se iniciou, estou pensando bem mais na praticidade das coisas. E foi enquanto me encontrava nesta condição pensante que caiu no meu colo, esta peça da sabedoria popular e de autoria anônima que diz: “Para barcos que não sabem para onde querem ir, nenhum vento serve!”.

Caiu sobre minha cabeça um baú bem grande de informações. A força da pancada acordou-me para o fato de que é fundamental ter rumos bem claros, senão o barco, aqui uma metáfora da vida, ficará a dar voltas em torno de si mesmo. Ter rumos e aproveitar os ventos.

Estou disposto a arrumar a casa, para que o amor e o espírito de todas as coisas, habitem circunstâncias mais favoráveis em mim.

Atenciosamente,

Marcos Hinterholz

Janeiro de 2012.

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